A vida
Há uns tempos, vi algo sobre o quão importante é termos objectivos na vida. Porque isso completa-nos e faz-nos querer lutar para ser reconhecidos e atingir esses objectivos. É o ter sonhos e realizá-los.
Mas 10% da população, não os tem defenidos. Como eu.
Se eu olhar para, sensivelmente, há uns 25 nos atrás, eu sabia que queria ser professora ou médica. Junto com minha irmã, passavamos verões inteiros a construir dossiers e relatórios ficcionais de medicina e de estudo. Nessa altura não tinha dúvidas que escolheria entre estas duas profissões.
Depois de vários acontecimentos, trágicos e traumáticos, deixei de "querer", "sonhar" e comecei a ser racional. Não poderia carregar meus pais com mais fardos, teria que ajudá-los a sustentar a família. Até lhes alertava para o facto de estarmos no limiar de ser uma família que se poderia sustentar só com uma pessoa a trabalhar.
Nunca mais coloquei a hipótese de seguir o que gostava. Passaram mais de 20 anos, desde que decidi seguir outros caminhos e comecei a tomar decisões sozinha. Muitas péssimas. Muitas desilusões. Mas o orgulho nunca me deixou pedir ajuda a meu pai, pra voltar a estudar. E se o tivesse ouvido, talvez fizesse algo que me gratificasse mais hoje em dia.
Mas também o culpo. Se ele tivesse cuidado melhor de nós, orientado e guiado melhor aquela família, poderíamos estar noutra situação.
Dei por mim várias vezes a culpar meu pai, por imensas decisões erradas que tive. Por imensas noites não dormidas. Por não ver nele um exemplo de pessoa a seguir. Por ele nunca ter participado nas nossas conversas e nunca ter demonstrado interesse em nossas vidas. A não ser que fosse para criticar. Aí sim, levantava sua voz para abafar os outros. Nessas alturas era um ser sapiente e cheio de experiência.
Agora, sou adulta... Quem vou culpar pelas decisões que me trouxeram até aqui? Ter um trabalho que não me completa de forma alguma, colegas que em nada me consigo identificar nem sequer simpatizar. Parecem por vezes mais perdidos que eu. A quem vou apontar o dedo, por profissionalmente me sentir um fracasso?
Eu sei a resposta. E por ter este dasabafo, que não se pense que eu não sei o que fazer... Sei. Geralmente quando desabafo, é porque já pensei demasiado no assunto antes e já cheguei a conclusões.
Sou bem mais persistente e forte do que pareço. Nisso, devo à minha mãe . Esteve no inferno e voltou.
Ahh... Isto é uma vida.