Lá vem ele de novo
Gosta de ir às cavalitas das pessoas. É como se fosse uma criança embirrenta que não pára quieta no topo dos ombros. Põe-se aos saltos que nem louco mesmo em cima de nós.
É teimoso e não se assusta com nosso ar mais sério. Estrangula-nos, já no seu auge, sufoca. Sentimos a cabeça a aumentar de tamanho, esmaga-nos o cérebro contra o pescoço. Sentimo-nos a inchar e a ficar cada vez mais zonzos.
Um copo de água com açúcar que isso passa... Dizem-me. Descansa que isso passa... Relaxa, que isso passa... Não penses nisso, que isso passa...
Passa... por algumas semanas, passa. Ele torna-se mais leve de suportar e não causa tanta dor. Até que nos esquecemos que ele está sempre ali, no topo dos ombros. Pronto a voltar à carga, quando deixamos de lutar contra a pressão à nossa volta.
Vou ter que aprender a viver com ele, até que saiba como me livrar dele.